quinta-feira, 13 de outubro de 2011

TRECHO DO LIVRO "O REGRESSO - CAMINHO ESPIRITUAL"



O sol, passando entre os galhos das árvores, espalhava manchas brilhantes no chão coberto de folhas secas, que estalavam, parecendo gemer ao serem pisadas. Sentaram-se numa pedra, e Adriana tirou os sapatos mergulhando os pés na água transparente e fria.

- Aqui é tudo tão quieto, tão diferente da vida agitada da cidade...

- É, - concordou Rogério - parece que nos sentimos mais perto de Deus. Veja essas árvores - ele olhou para cima, admirando-as - elas crescem, nos dão sombra, flores, frutos. E as formiguinhas que sobrem pelos seus troncos desempenham o seu trabalho silencioso.

Todos têm a sua função dentro da vida, já programada: a abelha, a lagarta, o besouro, a minhoca... As flores desbrocham, espalham o seu perfume, as abelhas vêm e sugam o néctar que vai produzir o mel que nos alimenta. Isso é muito bonito. Há uma lição para aprendermos em cada coisa que nos cerca. É a lição da vida, de Deus para os homens, que não sabem entendê-la.

- Só a morte não é bonita - comentou Adriana, triste.

Rogério a olhou e concordou - Não, não é. Com a morte, cessa a vida. Mas... quem sabe essa vida não continua, de uma outra forma?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ONDE?




Onde andará você, criatura,
Em quem depositei
O último dos meus sonhos?
Onde andará esse olhar
Buscando estrelas
E outro caminho
Por onde possa pisar?
Quantas tintas terá derramado
Em telas, seus dedos que gesticulavam
E contavam histórias,
Levando à boca
A chama de um cigarro
Que nervosamente tentava
Apagar anseios e amarguras?
Que chão pisarão seus pés
Esmagando sonhos?...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

AMPLITUDE

                    AMPLITUDE

Sonhar - através do sonho se consegue alcançar
distâncias inimagináveis.
O pensamento é livre.
Colocam-se grilhões nos pés de um homem,
mas ele sonha
e à sua mente
jamais se conseguirá colocar amarras.
O pensamento do homem é Deus,
e Deus está em todas as partes ao mesmo tempo,
da vastidão do firmamento
às profundezas dos mares.
Quem conseguirá alcançá-Lo,
senão em pensamento?
Num lugar qualquer -
árvore, mato, terra, água, céu, infinito,
cheiro de terra lavada pela chuva -
som de água cristalina e pura
correndo entre os seixos...
Estarei aqui, talvez lá, distante,
hoje, agora, amanhã ou depois...
Porque estarás sempre, sempre, comigo.

sábado, 13 de agosto de 2011

TRECHO DE "A NOITE NEGRA DE JESSÉ"



Ele caminhou pela areia da praia vendo as pessoas andarem alegres, em grupos ou casais, rindo, se
abraçando, tomando vinho e champanhe.  Outros grupos vestidos de branco dispunham em círculo,
sobre a areia, velas, flores brancas, garrafas de vinho e frutas, cantando, fumando charuto e batendo
palmas, fazendo a festa de Yemanjá - Nossa Senhora na cultura umbandista.  Jessé observava tudo,
solitário e curioso.  Quando os fogos iluminaram o céu em desenhos multi-coloridos, a multidão
explodiu em gritos e exclamações de alegria saudando o novo ano que se iniciava.  Jessé ganhou
abraços de gente que nem sequer conhecia e naquela hora sentiu-se parte do todo.  Sentou-se na
areia, tirou os sapatos, arregaçou as calças e foi molhar os pés nas ondas do mar, pedindo a Yemanjá
que abrisse os seus caminhos e então recitou, em voz alta, a oração de São Francisco, para ser
ouvida no céu e no mar.  A fé preencheu todo o seu peito e ele soube, naquele instante, que seria um vencedor. Iniciava-se o ano de 1968.





sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SONHOS


Um som, uma música,

Um mergulho no passado

O peito dói.

Sonhos que se foram...

Que não voltam mais.

Como seriam, se tivessem continuado?

Toda uma vida que se esvai...

Sonhos que não passaram de sonhos,

Como areia da praia que escorrega

Entre as mãos...

O que foi, o que poderia ter sido...

Uma nuvem, apenas fumaça...

Brasa que se apaga,

Árvore que cai.

Marcas na areia,

Onda que veio, onda que vai...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

...E o trem se foi



  De repente me vejo parada,
  Olhando o nada.
  O trem partiu, a estação se esvaziou.
  E o olhar perdido significa
  O quê? Que nada ficou.
  Coração amargurado, sem sentido,
  Vazio e triste.
  O que esperar então?
  A próxima lágrima, o próximo adeus,
  O próximo trem - que não vem.



sexta-feira, 13 de maio de 2011

INFINITUDE




Todos os sonhos sonhados
Estão embotados,
adormecidos no âmago
do meu ser.
A primavera passou, sou outono.
Aguardo o quê?
O viver. Viver de novo
em novo corpo,
embora continuando a ser
aquilo que sempre fui.
Eu sou
aquela que continuará
vivendo
aprendendo
galgando montanhas,
trilhando estradas.
Ser infinito
Infinito Ser.